Atualmente o grande vazio espiritual toma conta das sociedades. Acabo de ler que países como Holanda e Austrália tem grande probabilidade de sua população não possuir uma religião até o final do século, grande parte da população se diz descrente de qualquer “energia superior”.
Não que eu tenha nada contra ateísmo ou que eu seja um fanático. Concordo com a citação de Marx: “A religião é o ópio do povo”. Mas a idéia de um povo sem religião é um pouco assustadora (principalmente para nós ocidentais). Em que eles se apegam na hora do desespero? E como eles mantêm a ordem social? Pois, por mais que digam o contrário, ela conserva uma, aparente, paz social (por medo de um castigo divino ou sofrer com as conseqüências do “equilíbrio do universo”). Penso que se não houver uma espécie de “cultura religiosa”, temos a tendência de tornar-nos um povo sem história. A cidade de São Francisco nos EUA, não possui cemitérios nas localidades do município, se uma pessoa morre nessa cidade ela tem duas alternativas: ou ser cremada ou ser enterrada em outro município. Creio que uma cidade sem cemitérios é uma cidade sem memória.
Pelo que tenho visto as lutas dos nossos antepassados por liberdade chegaram a um ponto que, talvez, nem eles esperavam. Temos liberdade para fazermos o que quisermos (claro que dependendo do ato temos que pagar por eles), pensamos naquilo que queremos, hoje só é dominado por qualquer coisa quem quer. Acredito que talvez essa liberdade tenha sido dada de modo fácil de mais. Não temos lutas, guerras ou qualquer causa ideológica. Somos uma geração que só tem como luta a causa espiritual e que, aparentemente, estamos perdendo. Estamos sendo devorados por uma “animae necrosis” (necrose da alma) que nos consome cada vez mais. E esse vazio que vai se tornando cada vez maior não pode ser preenchido facilmente.
Acho que precisamos de uma causa. Nem que essa causa seja a busca de uma causa.
Arlequim.